Páginas

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

São Paulo, o gigante da Fé

Quem pode dizer de si mesmo: “combati o bom combate”, “guardei a fé”, “sede meus imitadores”, “tudo posso n’Aquele que me conforta”? Curou inúmeros enfermos, ressuscitou um morto, converteu multidões, foi açoitado, flagelado, apedrejado, naufragou, e morreu mártir. Este é o admirável São Paulo, cuja festa a Igreja celebra neste mês.
Com o sacrifício do primeiro mártir, Santo Estevão, teve início violenta perseguição contra a Igreja de Jerusalém, obrigando os fiéis a se dispersarem pelo interior da Judéia, pela Samaria, Síria e ilha de Chipre. Somente os Apóstolos permaneceram mais algum tempo na Cidade Santa.
Um fariseu se destacava por seu ódio contra os seguidores de Jesus. Não tendo idade legal para apedrejar Estevão, Saulo limitou-se a tomar conta dos mantos dos algozes. O seu ódio aos cristãos o levou a pedir ao príncipe dos sacerdotes cartas para as sinagogas de Damasco, com o fim de levar presos a Jerusalém os cristãos que lá encontrasse.
A mais retumbante conversão da História
Quem era esse Saulo?
Pelo ano 3 de nossa era, nasceu ele em Tarso, na Cilícia, cidade então célebre como centro comercial e intelectual. Sua família pertencia à tribo de Benjamin e gozava do direito de cidadania romana. Jovem ainda, estudou em Jerusalém, na escola do conhecido Gamaliel (1). Mas tudo leva a crer que permaneceu poucos anos nessa cidade, e não chegou a conhecer pessoalmente Jesus, segundo alguns autores.
Quando o reencontramos em Jerusalém, ei-lo na primeira fileira dos perseguidores dos cristãos. Sua maravilhosa conversão no caminho de Damasco, a mais retumbante da História, deu-se por volta do ano 35. Tinha ele cerca de 32 anos. É bem conhecido o episódio em que, subitamente envolto por uma luz resplandecente, caiu por terra e ouviu uma voz vinda do Céu:
— Saulo, Saulo, por que me persegues?
— Quem és, Senhor?
— Eu sou Jesus, a quem tu persegues.
— Senhor, que queres que eu faça? — perguntou trêmulo o até então orgulhoso fariseu. — Levanta-te, entra na cidade. Aí te será dito o que deves fazer — respondeu Jesus (2).
E Saulo, levantando-se, constatou que estava cego...
Para grandes males, grandes remédios. Que soberana manifestação de Deus, reduzindo à impotência aquele que julgava tudo poder! Cego, apenas sabia que devia se dirigir a Damasco: Aí te será dito o que deves fazer...
A auto-suficiência de Saulo fora substituída pela humildade de Paulo. Morrera o fanático fariseu, perseguidor dos cristãos, nascia o gigante da Fé que deslumbrará a Igreja.
Tudo no Apóstolo Paulo é grandioso.
Em Damasco, Ananias lhe restituiu a vista e o batizou. Em seguida, o neo-convertido passou três anos no deserto da Arábia sendo instruído pelo próprio Jesus. Voltando à capital da Síria, pregou a fé cristã com tanto zelo e sucesso, que os judeus, furiosos, tentaram matá-lo. Mas os discípulos fizeramno descer à noite pela muralha, dentro de um cesto.
Fugindo para Jerusalém, tentou juntar-se lá aos cristãos, mas todos o temiam, não crendo em sua conversão. Então Barnabé apresentouo aos Apóstolos, narrando como em Damasco Paulo pregara com desassombro o nome de Jesus.
Permaneceu pouco tempo na Cidade Santa, pois aí também alguns judeus quiseram matá-lo. O próprio Jesus lhe apareceu, alertando-o: “Apressa-te e sai logo de Jerusalém porque não receberão o teu testemunho a meu respeito. Vai, porque Eu te enviarei para longe, às nações...” (3).
Portentosa epopéia evangelizadora
Com esse mandato do Divino Mestre, o Apóstolo iniciou sua portentosa epopéia de evangelização entre os gentios.
Partiu para Tarso, e de lá seguiu com Barnabé para Antioquia, onde formaram uma grande comunidade de fiéis. Nesta cidade, os discípulos de Jesus foram chamados pela primeira vez de cristãos, para os distinguir dos judeus e dos gentios.
Na ilha de Chipre, para onde os dois Apóstolos se dirigiram, vemos um exemplo do fogo evangelizador de Paulo. O procônsul Sérgio Paulo, homem sensato, desejava ouvir a palavra de Deus. Mas Barjesus, um mago, procurava desviar da fé esse magistrado romano. Então Paulo cravou no falso profeta os olhos e disse: “Filho do demônio, cheio de todo engano e de toda astúcia, inimigo de toda justiça, não cessas de perverter os caminhos retos do Senhor! Eis que agora está sobre ti a mão do Senhor e ficarás cego. Não verás o sol até nova ordem!” (4) Ao ver o mago logo reduzido à cegueira, o procônsul abraçou a fé, admirando vivamente a doutrina do Senhor.
Apesar disso, as autoridades da cidade expulsaram os dois Apóstolos, por instigação dos judeus.
Assim, por sucessivas cidades, após a pregação destemida do Evangelho, acompanhada por vezes de milagres admiráveis, numerosas conversões se davam, o que ocasionava a perseguição por parte dos dirigentes das sinagogas locais.
A sagacidade, virtude saliente dos Santos de todas as épocas
O Divino Mestre nos recomenda sermos simples como a pomba e astutos como a serpente. São Paulo nos dá disso exemplo.
Foi ele pregar o nome de Cristo em Atenas, centro intelectual do mundo antigo. Todos os dias, discutia com os judeus nas sinagogas e anunciava na praça pública o nome de Jesus e sua Ressurreição. Alguns filósofos levaram- no para discursar no Areópago, local por excelência onde os atenienses se reuniam para dizer e ouvir as últimas novidades.
Demonstrando fina sagacidade, Paulo iniciou assim seu discurso: “Homens de Atenas, em tudo vos vejo muitíssimo religiosos. Percorrendo a cidade e considerando os monumentos do vosso culto, encontrei também um altar com esta inscrição: A um deus desconhecido. O que adorais sem o conhecer, eu vo-lo anuncio!” (5).
Quando, no final de seu discurso, o ouviram afirmar que Cristo ressuscitou, muitos zombaram dele. Entretanto, alguns homens creram e foram batizados, entre os quais São Dionísio Areopagita, primeiro Bispo de Atenas.
Deus quer operar milagres através dos Santos
Local onde estiveram presos São Pedro e São Paulo. 
No canto à esquerda, vê-se a fonte que brotou milagrosamente.
Deus deu a alguns de seus discípulos o poder de, em seu nome, curar os enfermos, expulsar os demônios, e até ressuscitar mortos. São Paulo valeu-se largamente desse poder, para atrair e confirmar na Fé aqueles a quem pregava.
Na cidade de Listra, ordenou a um homem coxo de nascença: “Levanta-te direito sobre os teus pés!”.(6) Este deu um salto e pôs-se a andar. Impressionado, num primeiro momento o povo quis adorá-lo como um deus. Porém, manipulado por alguns judeus, acabou apedrejando Paulo. Julgando-o morto, o arrastou para fora da cidade. O Apóstolo foi salvo depois pelos discípulos.
Na ilha de Malta, curou o pai do governador, impondo-lhe as mãos. Sabendo disto, os habitantes apressaram em trazer-lhe todos os doentes da ilha, e todos foram curados.
E em Trôade, Paulo ressuscitou um moço que, durante uma pregação que se prolongara noite adentro, adormeceu e caiu do terceiro andar, vindo a falecer.
Seria demais longa a enumeração desses fatos prodigiosos.
Mencionemos apenas mais um, muito interessante para mostrar como Nosso Senhor Jesus Cristo se compraz com o culto às relíquias dos Santos. Diz o livro dos Atos dos Apóstolos (19, 11): “Deus fazia milagres extraordinários por intermédio de Paulo, de modo que lenços e outros panos que tinham tocado o seu corpo eram levados aos enfermos; e afastavam-se deles as doenças e retiravam-se os espíritos malignos”.
O elogio de si mesmo, em defesa dos fracos na Fé
Premido pela necessidade de anular os efeitos nefastos de falsos apóstolos, ministros de Satanás disfarçados em ministros de Cristo, São Paulo vê-se obrigado a fazer aos cristãos de Corinto esta magnífica apologia de si mesmo: “São hebreus? Também eu. São israelitas? Também eu. São ministros de Cristo? Falo como menos sábio: eu, ainda mais. Muito mais pelos trabalhos, muito mais pelos cárceres, pelos açoites sem medida. Muitas vezes vi a morte de perto. Cinco vezes recebi dos judeus os quarenta açoites menos um. Três vezes fui flagelado com varas. Uma vez apedrejado. Três vezes naufraguei.” (7).
Continuando, proclama que, sem a graça, ele nada é, e faz uma repreensão aos coríntios: “Importa que me glorie? Na verdade, não convém! Passarei, entretanto, às visões e revelações do Senhor. Conheço um homem em Cristo que há catorze anos foi arrebatado até o terceiro céu. (...) e lá ouviu palavras inefáveis, que não é permitido a um homem repetir. Deste homem eu me gloriarei, mas de mim mesmo não me gloriarei, a não ser das minhas fraquezas (...) Vós é que deveríeis fazer o meu elogio, visto que em nada fui inferior a esses eminentes apóstolos, se bem que nada sou” (8).
Também perante os gálatas, teve de usar argumentação semelhante: “Estou admirado de que tão depressa passeis daquele que vos chamou à graça de Cristo para um evangelho diferente. (...) Asseguro-vos, irmãos, que o Evangelho pregado por mim não tem nada de humano. Não o recebi nem o aprendi de homem algum, mas mediante uma revelação de Jesus Cristo. (...) Estou pregado à cruz de Cristo. Eu vivo, mas já não sou eu; é Cristo que vive em mim. A minha vida presente, na carne, eu a vivo na fé no Filho de Deus, que me amou e se entregou por mim” (9).
E aos filipenses: “Se há quem julgue ter motivos humanos para se gloriar, maiores os possuo eu: circuncidado ao oitavo dia, da raça de Israel, da tribo de Benjamim, hebreu e filho de hebreus. (...) quanto à justiça legal, declaradamente irrepreensível. (...) Irmãos, sede meus imitadores, e olhai atentamente para os que vivem segundo o exemplo que nós vos damos. Porque há muitos por aí, de quem repetidas vezes vos tenho falado e agora o digo chorando, que se portam como inimigos da cruz de Cristo. Nós, porém, somos cidadãos dos céus. (...) Fiquei imensamente contente, no Senhor, porque, finalmente, vi reflorescer o vosso interesse por mim. Tudo posso naquele que me conforta” (10).
Combateu o bom combate, recebeu no Céu a coroa de justiça
Estando preso em Roma, o incansável Apóstolo não deixou de pregar, e obteve a conversão de incontáveis almas. Posto em liberdade no início do ano 64, dirigiu-se à Espanha e à Ásia. Retornando a Roma, foi preso novamente, desta vez com São Pedro.
Ficaram eles na prisão mais antiga de Roma, o Cárcere Mamertino, local impregnado de bênçãos, que comove a quantos por lá passam. Com efeito, como não se impressionar ao contemplar, logo nos primeiros degraus da estreita escada que leva ao calabouço, a marca do rosto do Príncipe dos Apóstolos, milagrosamente impressa na parede de pedra? E que emoção ao ver no canto da cela a fonte que brotou do solo, possibilitando aos Apóstolos batizarem os próprios carcereiros, convertidos pelo seu exemplo e pregação!
No final de sua heroica vida, pôde o Apóstolo das Gentes cantar este hino de triunfo do varão que sente a consciência limpa na hora do encontro com o Supremo Juiz: “Combati o bom combate, terminei a minha carreira, guardei a fé. Resta-me agora receber a coroa da justiça, que o Senhor, justo Juiz, me dará naquele dia, e não somente a mim, mas a todos aqueles que aguardam com amor a sua aparição” (11).
Grandiosa foi sua vida, tal será também sua morte.
Sendo cidadão romano, São Paulo não podia ser crucificado. Foi, assim, decapitado pela espada, no ano 67. Conta-nos a tradição que sua cabeça, rolando ao solo, saltou três vezes e fez brotar três fontes que podem ser vistas ainda hoje na Igreja de San Paolo alle Tre Fontane, na via d’Ostia, em Roma.

1) At 22, 3. 2) At 3, 6. 3) At 22, 18 e 21. 4) At 13, 10-11. 5) At 17, 22-23. 6) At 14, 10. 7) II Cor 11, 22-25. 8) II Cor 12, 1-5 e 11. 9) Gal 1, 6 e 11-12; 2, 19-20. 10) Fil. 3, 4-6 e17-20; 4, 10 e 13. 11) II Tim. 4, 7-8.


:
Local onde estiveram presos São Pedro e São Paulo. No canto à esquerda, vê-se a fonte que brotou milagrosamente.

Nenhum comentário: