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sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

São Francisco Xavier e a ressurreição da filha de um homem rico


A história afirma que quando São Francisco Xavier se achava em Cangoxima, no Japão, fez um grande número de milagres, o mais notável dos quais foi a ressurreição duma rica dama. Esta donzela morrera na flor da idade, e o pai, que a amava ternamente, estava a ponto de enlouquecer. Como ele era idólatra, não encontrava lenitivo para a sua aflição, e os seus amigos que iam consolá-lo não faziam mais do que aumentar a sua dor. Dois neófitos que o foram ver, antes de se proceder ao funeral daquela que ele chorava noite e dia, aconselharam-no que procurasse socorro junto do santo homem que fazia tão grandes coisas e pedisse-lhe, com confiança, a vida de sua filha.
O pagão, persuadido pelos neófitos de que nada era impossível ao bonzo da Europa, e começando a manter uma esperança contra todas as aparências humanas, como acontece de ordinário aos aflitos, que creem facilmente em quem os consola, foi procurar o Padre Francisco, lançou-se aos seus pés, e pediu-lhe com as lágrimas nos olhos que ressuscitasse uma filha única que acabava de perder, acrescentando que seria restituir-lhe a vida a ele mesmo.
Xavier, condoído da fé e da aflição do pagão, retirou-se com o seu companheiro Fernandes para orar a Deus, e voltando pouco tempo depois, disse ao pai inconsolável:
 ── Ide que vossa filha está viva.
O idólatra, que esperava que o Santo fosse com ele à sua casa, e invocaria o nome do Deus dos cristãos sobre o corpo de sua filha, tomou aquelas palavras por zombaria e retirou-se descontente. Mas apenas tinha dado alguns passos, viu um dos seus criados, que, todo cheio de alegria, lhe gritou de longe, dizendo-lhe que sua filha estava viva. E viu-a daí a pouco, porque ela correra ao seu encontro. Depois dos primeiros abraços, a filha contou a seu pai que, apenas entregara a alma, dois demônios horríveis se apoderaram dela e a quiseram precipitar num abismo de fogo; mas dois homens de aspecto nobre e modesto a tinham arrancado das mãos daqueles dois carrascos e lhe restituíram a vida, sem que lhe fosse possível dizer como isso se fizera.
O japonês compreendeu quais eram aqueles dois homens de quem lhe falava a filha, e conduziu-a logo a Xavier, para Lhe testemunhar o seu agradecimento, como era devido a um tamanho favor; e apenas ela viu o santo com o seu companheiro Fernandes, exclamou:
  Eis os meus dois libertadores!
E no mesmo instante pai e filha pediram o batismo.

Schouppe, S.J., Pe. F. X., "O Dogma do Inferno", trad. bacharel formado em Teologia na Universidade de Coimbra, Liv. Católica Portuense, Porto, 1896, p.5.

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