QUEM FOI SÃO FRANCISCO DE ASSIS
Filho de Pedro e Dona Pica
Bernardone, Francisco nasceu entre 1181 e 1182 , na cidade de Assis, Itália.
Seu pai era um rico e próspero comerciante, que seguidamente viajava para a
França, de onde trazia a maior parte de suas mercadorias. Foi de lá também que
ele trouxe sua bondosa esposa, Dona Pica. Para prestar uma homenagem a este
país, Pedro Bernardone chamou seu filho de Francisco. Líder da Juventude
Francisco era o líder da
juventude de sua cidade. Alegre, amante da música e das festas, com muito dinheiro
para gastar, tornou se rapidamente um ídolo entre seus companheiros. Apreciava
muito banquetes, cantares e noitadas de diversão.
CONFLITOS ENTRE FEUDOS E COMUNAS
A Itália, como toda a Europa
daquela época, vivia uma fase bastante conflitante de sua história, marcada
pela passagem do sistema feudal (baseado na estabilidade e nas relações entre
vassalos e suseranos) para o sistema burguês, com o surgimento das
"comunas" livres (pequenas cidades), com seu comércio, artesanato e
pequenas indústrias. Com o novo sistema, mudaram se as relações. O poder dos
senhores feudais passou a ser questionado e enfrentado pelos novos senhores,
originários das comunas, a maioria deles constituída pelos comerciantes mais
abastados, a exemplo de Pedro Bernardone.
Eram freqüentes nesta época
guerras e batalhas entre os senhores feudais e as emergentes comunas. Como todo
jovem ambicioso de sua época, Francisco desejava conquistar, além da fortuna,
também a fama e o título de nobreza. Para tal, fazia se necessário tornar se herói
em uma dessas freqüentes batalhas. No ano de 1201, incentivado por seu pai, que
também ansiava pela fama e nobreza, Francisco partiu para mais uma guerra que
os senhores feudais, baseados na vizinha cidade de Perúsia, haviam declarado
contra a Comuna de Assis. Durante os combates, em uma tarde de inverno,
Francisco caiu prisioneiro, sendo levado para a prisão de Perúsia, onde
permaneceu longos e gelados meses. Para um jovem cheio de vida como ele, a
inércia da prisão deve ter sido especialmente dolorosa! Somente seu espírito
alegre, seu temperamento descontraído e seu gosto pela música o salvaram do
desespero. Encontrava ainda forças para reconfortar e reanimar a seus
companheiros de infortúnio. Costumava dizer, em tom de brincadeira para seus
companheiros: "Como quereis que eu fique triste, sabendo que grandes
coisas me esperam? O mundo inteiro ainda falará de mim!"
Ao término de um ano foi solto
da prisão, retornando para Assis, onde se entregou novamente aos saudosos
divertimentos da juventude e às atividades na casa comercial de seu pai.
O INÍCIO DA CONVERSÃO
O clima insalubre da prisão,
agravado pelos prolongados meses de inverno, haviam lhe enfraquecido o
organismo, provocando agora uma grave enfermidade. Depois de longos meses de
sofrimento, sem poder sair da cama, finalmente conseguiu melhorar. Ao levantar
se, porém, não era mais o mesmo Francisco. Sentiu se diferente, sem poder
compreender a o porquê. A verdade é que a humilhação e o sofrimento da prisão,
somado ao enfraquecimento causado pela doença, provocaram profundas mudanças no
jovem Francisco. Foi o caminho que Deus escolheu para entrar mais profundamente
em sua vida. Já não sentia mais prazer nas cantigas e banquetes em companhia
dos amigos. Começou a perceber a leviandade dos prazeres puramente terrenos,
embora ainda não buscasse a Deus. Na verdade, Francisco não nasceu santo, mas
lutou muito para se tornar santo!
MAIS UMA GUERRA
Francisco havia perdido o gosto
pelos prazeres mundanos, mas conservava ainda a ambição da fama. Por esse motivo,
sonhava com a glória das armas e a nobreza, que se conquistavam nos campos de
batalha.
Por isso, aderiu prontamente ao
exército que o Conde Gentile de Assis estava organizando para ajudar o Papa
Inocêncio III na defesa dos interesses da Igreja. Contou para isso com a
aprovação entusiasmada do pai, que vislumbrava aí a oportunidade tão longamente
esperada de enobrecer sua família. Deus, porém, lhe reservava algumas
surpresas...
Antes de partir, num impulso de
generosidade, Francisco cedeu a um amigo mais pobre os ricos trajes e a
armadura caríssima que havia preparado para si. Isso lhe valeu um sonho
estranho: viu um castelo repleto de armas destinadas a ele e a seus
companheiros. Francisco não conseguiu entender o significado do sonho. Pensou
que estava, talvez, destinado a ser um famoso guerreiro! O fato é que o sonho
não lhe saía do pensamento.
O RETORNO A ASSIS
Desafiando os sorrisos de
desdém dos vizinhos e a cólera de Pedro Bernardone, contrariado em seus
projetos, Francisco retornou a Assis, dando prova da energia de seu caráter e
do valor do seu ânimo, virtudes que se mostrariam valiosas mais tarde nos percalços
de seu novo caminho.
Começou a longa busca e a longa
espera: "O que Deus quer de mim? O que Ele quer que eu faça?" Era
esse o constante questionamento de Francisco.
Sentia um vazio dentro de si,
que as festas, farras, bebedeiras e guerras não conseguiam mais preencher.
Estava inquieto e insatisfeito, mas não sabia bem por quê.
Em vão tentaram seus amigos
atraí lo outra vez para suas diversões, banquetes e trovas. Até o fizeram
coroar, durante uma festa, como o "Rei da Juventude", mas nada disso
o comoveu. Já não era isso que o atraía. Sua busca era outra ...
Para tentar desvendar os
desígnios de Deus, passou a se dedicar à oração e à meditação. Percorria campos
e florestas em busca de lugares mais tranquilos, em busca de respostas para
suas dúvidas e inquietações. Para ele, tudo passou a ter outro sentido. Passou
a enxergar as coisas com outros olhos e outro coração.
VIAGEM A ROMA
Em busca de respostas, decidiu
viajar para Roma, isso no ano de 1205. Visitou a tumba do Apóstolo São Pedro e,
indignado pelo que viu, exclamou: "É uma vergonha que os homens sejam tão
miseráveis com o Príncipe dos Apóstolos!" E jogou um grande punhado de
moedas de ouro, contrastando com as escassas esmolas de outros fiéis menos
generosos. A seguir, trocou seus ricos trajes com os de um mendigo e fez sua
primeira experiência de viver na pobreza. Voltou a Assis, à casa paterna,
entregando se ainda mais à oração e ao silêncio. A família e os amigos estavam
preocupados com o jovem Francisco: o que lhe estaria acontecendo? Será que
ainda estava em pleno juízo? Seu pai, então, não se conformava! Não era isso
que ele tinha sonhado para seu filho! Indignado, forçava o a trabalhar cada vez
mais em seu estabelecimento comercial.
O BEIJO NO LEPROSO
Em 1206, passeando a cavalo
pelas campinas de Assis, viu um leproso, que sempre lhe parecera um ser
horripilante, repugnante à vista e ao olfato, cuja presença sempre lhe havia
causado invencível nojo. Mas, então, como que movido por uma força superior,
apeou do cavalo, e, colocando naquelas mãos sangrentas seu dinheiro, aplicou ao
leproso um beijo de amizade. Talvez a motivação para este nobre e significativo
gesto tenha sido a recordação daquela frase do Evangelho: "Tudo o que
fizerdes ao menor de meus irmãos, é a mim que o fazeis" (Mt 10,42).
Falando depois a respeito desse momento, ele diz: "O que antes me era
amargo, mudou se então em doçura da alma e do corpo. A partir desse momento,
pude afastar me do mundo e entregar me a Deus".
O CRUCIFIXO DE SÃO DAMIÃO – NOVO CHAMADO DE DEUS
Pouco depois, entrou para rezar
e meditar na pequena capela de São Damião, semidestruída pelo abandono. Estava
ajoelhado em oração aos pés de um crucifixo, que a piedade popular ali
venerava, quando uma voz, saída do crucifixo, lhe falou: "Francisco, vai e
reconstrói a minha Igreja que está em ruínas". Não percebendo o alcance
desse chamado e vendo que aquela Igrejinha estava precisando de urgente
reforma, Francisco regressou a Assis, tomou da loja paterna um grande fardo de
fina fazenda e vendeu a. Retornando, colocou o dinheiro nas mãos do sacerdote
de São Damião, oferecendo se para ajudá lo na reconstrução da capela com suas
próprias mãos. Conhecendo o caráter de Pedro Bernardone, é fácil imaginar sua
cólera ao ver desfalcada sua casa comercial e perdido o seu dinheiro. Não
bastava já o desfalque que dava ao entregar gratuitamente mercadorias e
alimentação para os "vagabundos" necessitados? Agora mais essa! E
Francisco teve que se esconder da fúria paterna.
Certo dia saiu resolutamente a
mendigar o sustento de porta em porta na cidade de Assis. Para Bernardone isso
já era demais! Como podia ele envergonhar de tal forma sua família? Se seu
filho havia perdido o juízo, era necessário encarcerá lo! Assim, Francisco
experimentou mais uma vez o cativeiro, desta feita num escuro cubículo debaixo
da escada da própria casa paterna. Pelo que sabemos, depois de alguns dias,
movida pela compaixão, sua mãe abriu lhe às escondidas a porta e o deixou
partir livremente para seguir o seu destino.
UMA DECISÃO CORAJOSA
Ao final de 1206, Pedro
Bernardone, convencido de que nem as razões nem a força podiam torcer o ânimo
de Francisco, decidiu recorrer ao Bispo, instaurando se um julgamento como
nunca aconteceu na história de outro santo. O palco do julgamento foi a própria
Praça Comunal de Assis, bem à vista de todos.
Bernardone exigiu que seu filho
lhe devolvesse tudo quanto recebera dele. Francisco, ciente da sentença de
Cristo: "Quem ama o seu pai ou a sua mãe mais que a Mim, não é digno de
Mim" (Mt 19,29), sem vacilar um momento se despojou de tudo até ficar nu,
jogou os trajes e o dinheiro aos pés de seu pai, e exclamou: "Até agora
chamei de pai a Pedro Bernardone. Doravante não terei outro pai, senão o Pai
Celeste". O Bispo, então, o acolheu, envolvendo o com seu manto. Daquele
momento em diante, cantando "Sou o arauto do Grande Rei, Jesus
Cristo", afastou se de sua família e de seus amigos e entregou se ao
serviço dos leprosos, tratando de suas feridas, e à reconstrução das Capelas e
Oratórios que cercavam a cidade. Cada dia percorria as ruas mendigando seu pão
e convidando as pessoas para que contribuíssem com pedras e trabalho na
restauração das "Casas de Deus" que estavam em ruínas.
O LOUCO DE ASSIS
De alguns recebia apoio e
incentivo. De muitos, o desprezo e a zombaria. No entender da maioria, o filho
de Pedro Bernardone havia perdido completamente o juízo! E não só a garotada da
cidade escarnecia dele, chamando o de louco e outros qualificativos menos
nobres.
Mais de uma vez sentiu se
tentado a voltar atrás, quando chegava à porta de seus antigos amigos; mas saía
vitorioso nessas lutas entre o orgulho humano e o próprio ideal. Já alguns
começaram a reconhecer nele traços do futuro santo, embora ele mesmo ainda não
conhecesse claramente sua vocação.
Estava já terminando a
restauração da última Igrejinha da redondeza, a capelinha de Santa Maria dos
Anjos e perguntava se o que faria depois. O que mais lhe pediria Deus? Não
havia entendido ainda que a Igreja que devia restaurar não era a de pedra, mas
a própria Igreja de Cristo, enfraquecida na época pelas divisões, heresias e
pelo apego de seus líderes às riquezas e ao poder.
Devia ser aquele o ano de 1209.
Certo dia, Francisco escutou, durante a missa, a leitura do Evangelho: tratava
se da passagem em que Cristo instruía seus Apóstolos sobre o modo de ir pelo
mundo, "sem túnicas, sem bastão, sem sandálias, sem provisões, sem
dinheiro no bolso ..." (Lc 9,3). Tais palavras encontraram eco em seu
coração e foram para ele como intensa luz. E exclamou, cheio de alegria:
"É isso precisamente o que eu quero! É isso que desejo de todo o
coração!" E sem demora começou a viver, como o faria em toda a sua vida, a
pura letra do Evangelho. Repetia sempre para si e, mais tarde, também para seus
companheiros: "Nossa regra de vida é viver o Evangelho de Nosso Senhor
Jesus Cristo"!
OS PRIMEIROS SEGUIDORES
A partir daquele dia, Francisco
iniciou sua vida de pregador itinerante, percorrendo as localidades vizinhas e
pregando, em palavras simples, o Evangelho de Cristo.
Muitos começaram, enfim, a
compreender o sentido dessa vida e manifestaram o desejo de segui-la. O
primeiro foi um homem rico de Assis, Bernardo de Quintaval. Ao perguntar para
Francisco: "O que devo fazer para seguir te"?, este decidiu, como em
todos os momentos decisivos de sua vida, recorrer ao Evangelho para que o
próprio Cristo lhes desse a resposta.
O PRIMEIRO SACERDOTE FRANCISCANO
O exemplo de Bernardo produziu
frutos. O primeiro é o sacerdote Silvestre, que exclamou comovido: "Como
posso eu, sacerdote e velho, ser menos generoso que estes jovens e ricos?"
E, sem mais, lançou se com eles na aventura de viver o Evangelho. Tornou se,
assim, o primeiro sacerdote da Ordem Franciscana!
Prontamente aderiram outros:
Gil, um modesto lavrador que se tornaria um grande santo; Morico, dedicado ao
serviço dos leprosos; Bárbaro, futuro missionário no Oriente; Sabatino,
Bernardo de Viridiante, João de Constança, Ângelo, da ilustre família dos
Tancredo, aparentado com reis e príncipes; Felipe, grande pregador; e muitos
outros...
Juntos, formaram um grupo de
mendigos voluntários (daí o adjetivo de Ordem Mendicante dado à Ordem
Francicana), que trabalhavam e rezavam, cantavam e pregavam, maravilhando o
povo com a novidade do Evangelho sendo vivido diante de seus próprios olhos.
Algumas choupanas cobertas de folhagem, no pitoresco vale do Rivotorto, serviam
lhes de modesto abrigo.
O CAMINHO DO EVANGELHO
De manhã, bem cedo, foram ambos
à missa. Pelo caminho juntou se aos dois Pedro de Catânia, doutor em Direito e
novo companheiro. Por três vezes abriram o livro do Evangelho, e as três
respostas que encontraram foram as seguintes:
"Se queres ser perfeito,
vende o que tens e dá o aos pobres. Depois vem e segue me" (Mt 19,21).
"Não leveis nada pelo
caminho, nem bastão, nem alforge, nem uma segunda túnica..." (Lc 9,3).
"Se alguém quer vir após
mim, negue se a si mesmo, tome a sua cruz cada dia e siga me" (Mt 16,24).
"Isto é o que devemos
fazer, e é o que farão todos quantos quiserem vir conosco" exclamou Francisco, que subitamente viu
brilhar uma luz sobre o caminho que ele e seus companheiros deveriam seguir.
Finalmente encontrou o que por tanto tempo havia procurado! Isto aconteceu a 24
de fevereiro de 1208, dando início à fundação da Fraternidade dos Irmãos
Menores.
No mesmo dia, Bernardo de
Quintaval vendeu todos os seus bens e repartiu o dinheiro entre os pobres de
Assis.
A APROVAÇÃO DA IGREJA
No ano de 1210, Francisco e
seus seguidores viajaram até Roma para buscar a aprovação do Papa para o seu
modo de vida. Mas como aquele bando de mendigos, maltrapilhos e desconhecidos
seria recebido pelo severo Inocêncio III? Francisco rezava e confiava. Afinal,
não era o próprio Cristo que o estava conduzindo?
Por coincidência ou providência
divina, encontrava se em Roma, nessa ocasião, o Bispo de Assis, grande
admirador de Francisco. Graças a ele o Papa os recebeu.
Inocêncio III ficou maravilhado
com o propósito de vida daquele grupo e, especialmente, com a figura de
Francisco, a clareza de sua opção e a firmeza que demonstrava. Reconheceu nele
o homem que há pouco vira em sonho, segurando as colunas da Igreja de Latrão (a
igreja mãe de todas as Igrejas do mundo!), que ameaçava ruir. O Papa reconheceu
que era o próprio Deus quem inspirava Francisco a viver radicalmente o
Evangelho, trazendo vida nova a toda a Igreja, naquele tempo tão distanciada
dos ensinamentos de Cristo! Por isso deu a seu modo de viver o Evangelho a
aprovação oficial da Igreja. Autorizou Francisco e seus seguidores a pregar o
Evangelho nas igrejas e fora delas e os despediu com sua bênção. Este fato
histórico ocorreu a 16 de Abril de 1210, marcando o nascimento oficial da Ordem
Franciscana.
UMA ORDEM DE IRMÃOS
Cabe aqui ressaltar que a Ordem
Franciscana foi criada como uma Ordem de Irmãos, que assumiam a missão de viver
e pregar o Evangelho. Não era uma Ordem Clerical (Ordem composta por
sacerdotes), como outras que já existiam. O próprio Francisco não quis ser sacerdote
e os primeiros frades também não tinham esse objetivo. Desde o início, porém,
como vimos pela história de Frei Silvestre, houve o ingresso de alguns
sacerdotes já formados, que desejavam ser franciscanos. Algum tempo depois,
sobretudo quando Santo Antônio, professor de Teologia, ingressou na Ordem,
passou a ensinar Teologia aos frades e alguns deles passaram a se ordenar
sacerdotes. Mais tarde, devido principalmente às necessidades da Igreja, a
maioria dos frades passou a se ordenar. Mas até hoje, dentro da ordem
Franciscana, convivem como irmãos, em igualdade de condições, frades sacerdotes
e não sacerdotes (estes chamados outrora de irmãos leigos, por não serem
sacerdotes), cada um exercendo a sua função. Esse é, sem dúvidas, um dos
aspectos mais belos da Ordem criada por São Francisco.
Obs.: A sigla O.F.M., que
geralmente aparece depois do nome dos frades, quer dizer Ordem dos Frades
Menores.
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