Profeta Daniel duas vezes lançado na cova dos leões
Devido a sua heroica fidelidade
a Deus, por duas vezes Daniel foi perseguido por idólatras e lançado numa cova
de leões. Em ambas as ocasiões, por sua inabalável confiança no Altíssimo, saiu
miraculosamente ileso.
Da estirpe real de Davi, muito
jovem ainda, Daniel foi levado para Babilônia por Nabucodonosor quando este
conquistou Jerusalém, no século VI antes de Cristo.
Inteligente e bem-apessoado,
destacava-se pelo porte e, sobretudo, pelas virtudes e dons sobrenaturais,
entre os quais os de sabedoria, fortaleza e interpretação de visões e sonhos.
Percebendo sua superioridade, Nabucodonosor nomeou-o governador de todas as
províncias de Babilônia, presidente dos magistrados e dos sábios do império.
Deus enviou um anjo que fechou a boca dos leões
Algum tempo depois, subiu ao
trono de Babilônia o rei Dario, que pretendia elevá-lo ao mais alto cargo do
reino. Mas, movidos por inveja e ódio, vários ministros e sátrapas
(governadores de províncias), tramaram a morte de Daniel, apresentando a Dario
esta proposta:
“Os ministros do reino, os prefeitos, os sátrapas, os conselheiros e os
governadores estão todos de acordo em que seja publicado um edito real com uma
interdição, estabelecendo que aquele que nesses trinta dias dirigir preces a um
deus ou homem qualquer que seja, além de ti, ó rei, seja jogado na cova dos
leões” (Dn 6, 8).
Embora admirasse o fiel
israelita, o rei cedeu e fez publicar a infame lei.
Sabendo disso, “Daniel entrou em sua casa, a qual tinha no
quarto de cima janelas que davam para o lado de Jerusalém. Três vezes ao dia,
ajoelhado, como antes, continuou a orar e a louvar a Deus” (6, 11).
Os ministros e sátrapas o
denunciaram ao rei, o qual se entristeceu e procurou salvá-lo da morte. Mas os
iníquos adversários do profeta ameaçaram o monarca, frisando que, segundo a lei
dos medos e persas, todo edito real era imutável. Este acabou fraquejando e
ordenou que Daniel fosse lançado na cova dos leões.
Perturbado, Dario não conseguiu
dormir naquela noite e, logo de manhã, foi à cova. Chamou Daniel, que lhe
respondeu: “Meu Deus enviou seu anjo e fechou a boca dos leões; eles não me
fizeram mal algum, porque a seus olhos eu era inocente e porque contra ti
também, ó rei, não cometi falta alguma” (6, 23).
O rei mandou tirá-lo e jogar na
cova os acusadores, com suas mulheres e filhos. “Não haviam tocado o fundo da
cova, e já os leões os agarraram e lhes trituraram os ossos!” (6, 25).
Decretou, então, Dario: “Em
toda a extensão de meu reino, se mantenha perante o Deus de Daniel temor e
tremor. É o Deus vivo, que subsiste eternamente; seu reino é indestrutível e
seu domínio é perpétuo” (6, 27).
O ídolo Bel
Babilônia foi depois
conquistada pelo rei persa Ciro, o Grande, o qual manteve o profeta em
proeminente cargo. “Daniel era conviva do rei e o mais honrado de todos os seus
íntimos” (14, 1).
Entretanto, em Babilônia era
adorado um ídolo denominado Bel. Diariamente eram-lhe oferecidas 40 ovelhas,
além de vários quilos de farinha e seis ânforas de vinho. Tudo era “comido e
bebido” por Bel.
Certo dia, o rei perguntou a
Daniel por que não cultuava o ídolo. Respondeu ele: “Porque não venero ídolo
feito pela mão do homem, mas sim o Deus vivo que criou o céu e a terra” (14,
5).
Argumentou o rei que Bel era
vivo, pois comia e bebia diariamente. Rindo, retrucou Daniel: “Este deus é de
barro por dentro e de bronze por fora, e ele nunca comeu coisa alguma” (14, 6).
Irritado, o monarca mandou
chamar os sacerdotes de Bel e decretou: “Se não me disserdes quem come essas
oferendas, morrereis. Mas se me provardes que é Bel quem as absorve, será
Daniel quem morrerá” (14, 7-8).
No templo de Bel residiam os 70
sacerdotes, com suas mulheres e filhos, e para lá se dirigiram Daniel e o rei.
Astúcia de Daniel
Os sacerdotes mostravam-se
seguros, porque haviam feito aberturas secretas pelas quais entravam à noite
para comer as oferendas. Tendo eles se retirado, o rei depôs os alimentos
diante do ídolo. Mas Daniel, na presença do rei, mandou seus criados espalharem
cinza pelo templo todo. Em seguida, saíram, fecharam a porta, lacrando-a com o
sinete real, e se retiraram.
Voltando ao raiar da aurora, e
vendo a mesa do altar vazia, o rei entoou louvores a Bel. Mas Daniel, pondo-se
a rir, apontou-lhe as pegadas de homens, mulheres e crianças no pavimento.
Furioso, o soberano mandou prender os sacerdotes, os quais lhe mostraram as
aberturas secretas por onde entravam todas as noites para comer o que havia
sobre o altar. O rei, então, mandou matá-los e Daniel destruiu Bel e seu
templo.
Fez estourar o dragão
Existia também em Babilônia um
imenso dragão, adorado como deus.
O rei interpelou Daniel:
“Pretenderás também dizer que aquele é de bronze? Vive, come, bebe. Tu não
podes negar que seja um deus vivo. (...) Adora-o então” (14, 23-24).
Este replicou que, se o rei lhe
permitisse, mataria o dragão sem mesmo usar espada ou bastão. Ele autorizou.
Então Daniel cozinhou juntos breu, gordura e pêlos, fez bolotas e jogou-as na
boca do monstro, o qual estourou e morreu. “Eis aí o que adoráveis!” — disse ao
rei (14, 26).
Cheios de ódio, os babilônios
exigiram do rei: “Entrega-nos Daniel; do contrário, nós te mataremos, bem como
toda tua família” (14, 28). Este cedeu, e Daniel foi lançado numa cova onde
havia sete leões famintos.
Deus não abandona os que O amam
Por milagre de Deus, Daniel não
foi tocado pelas feras.
Enquanto isso se passava, o
profeta Habacuc — na Judéia a muitos quilômetros de Babilônia — preparava a
refeição para os ceifadores no campo. De repente, apareceu um anjo que lhe
ordenou levar os alimentos a Daniel. “Senhor, disse Habacuc, nunca vi
Babilônia, e não conheço essa cova” (14, 34).
O anjo, então, levou-o até a
entrada da cova dos leões, em Babilônia, onde Habacuc bradou: “Daniel, toma a
refeição que Deus te envia” (14, 36). Daniel exclamou: “Ó Deus, vós pensastes
em mim! Vós não abandonastes os que vos amam!” (14, 37). Pôs-se a comer, e o
anjo transportou Habacuc de volta à Judéia.
Transcorridos sete dias, o rei
dirigiu-se à cova para chorar Daniel. Surpreso, viu-o ileso, sentado no meio
dos leões.
Em alta voz, o monarca louvou o
verdadeiro Deus, mandou imediatamente retirar Daniel da cova, e nela jogar seus
inimigos. Todos foram devorados num instante.
Confiança
Nesses episódios, brilha de
modo especial a confiança de Daniel. Mais do que nunca, essa virtude hoje nos é
necessária.
Disse o Divino Mestre “Haveis
de ter aflições no mundo; mas tende confiança, Eu venci o mundo” ( Jo 16, 33).
Peçamos ao profeta Daniel que
nos obtenha de Nossa Senhora graças super-abundantes e eficazes de confiança.
Paulo Francisco Martos. Revista Arautos do Evangelho n.23. nov. 2003
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