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sexta-feira, 10 de julho de 2015

Qual foi o primeiro santo canonizado?

Ensina-nos a mineralogia que os mais puros cristais se formam pelo esfriamento de rochas em estado líquido. As temperaturas necessárias para fundi-las são elevadíssimas, como as existentes nos vulcões e no magma do interior da terra. Quanto mais longo for o tempo de esfriamento, e maior a tranquilidade desse processo, maiores e mais perfeitos serão os cristais.
O mesmo acontece com as instituições da Igreja: a Liturgia, a hierarquia eclesiástica, o Código de Direito Canônico, as manifestações artísticas, enfim, as maravilhas que conhecemos e deslumbram o mundo hoje em dia.
Nosso Senhor não fundou uma Igreja já perfeita e acabada, mas quis deixar essa tarefa de elaboração das instituições aos seus futuros membros, os quais com serenidade, paciência e sabedoria, iriam cristalizando ao longo dos séculos a maravilhosa e ardente doutrina que nos deixou o Filho de Deus.
Uma dessas instituições, que demorou nove séculos em produzir um dos melhores diamantes espirituais da Igreja, é a das canonizações: o primeiro homem oficialmente elevado à honra dos altares foi Santo Ulrico, Bispo de Augsburgo, na atual Baviera, Alemanha, no século X.
Isto não significa que não tenha havido santos na Igreja nos séculos precedentes. Houve sim, mas não passaram por um processo formal, segundo regras definidas pela Santa Sé. Até então, os santos eram aclamados pelo entusiasmo popular, a vox populi; enquanto hoje, a fama de santidade de um católico leva apenas a que se inicie o seu processo de canonização.
Com a expansão da Igreja, os Bispos, paulatinamente e visando evitar abusos, reservaram-se o direito de propor à devoção pública um determinado fiel, mas faziam-no sempre como consequência de um primeiro movimento proveniente dos fiéis.
Na época das perseguições, costumava-se celebrar a Eucaristia nos túmulos dos cristãos falecidos, no aniversário de sua morte. Isso não despertava suspeitas das autoridades perseguidoras, pois os romanos tinham o costume de realizar uma refeição na tumba de seus familiares; e as primeiras liturgias cristãs eram uma imitação muito próxima do acontecido na Última Ceia: não havia ainda um rito estabelecido, paramentos litúrgicos, vasos sagrados, nem a maior parte dos ornamentos usados hoje em dia para estimular nossa devoção e mostrar a devida reverência ao ato sagrado. Nem sequer existiam igrejas.
Assim, pois, esse costume foi se generalizando, e em tempos posteriores às perseguições não era raro celebrar-se com pompa a Eucaristia nos túmulos dos familiares. Santo Agostinho, por exemplo, narra nas Confissões a Eucaristia celebrada na sepultura de sua mãe, Santa Mônica.
Posteriormente, com as migrações e invasões bárbaras, foram sendo removidos e enterrados nas igrejas, para protegê-los contra saques e profanações, os ossos, ou seja, as “relíquias” (do latim, relinquere, deixar para trás) dos mártires, que haviam edificado particularmente os fiéis por sua morte exemplar. No decorrer do tempo, quis-se enterrar nas igrejas também os restos mortais de pessoas dignas de veneração por suas virtudes e exemplo de vida: santos não mártires, como se diz hoje em dia.

Com o aumento do número de “santos”, a Igreja foi estabelecendo os critérios necessários para proclamar a santidade de uma pessoa. E o primeiro em cumpri-los foi Santo Ulrico, canonizado em 3 de fevereiro de 993 pelo Papa João XV. Perdeu-se a bula de canonização, mas sabe-se de sua existência mediante transcrições posteriores e menções em outros documentos. Desde então, fizeram-se vários aperfeiçoamentos e modificações no processo, mas os fundamentos estavam lançados. 
Revista Arautos do Evangelho - mar 2013

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