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terça-feira, 26 de julho de 2016

A espera de São Joaquim e Santa Ana

Segundo a tradição, Santa Ana concebeu Nossa Senhora de São Joaquim quando já era muito velha, fora da idade de ter filhos. Quando eles já tinham passado a época em que esperavam ter filhos.
Para cada judeu era muito importante ter filho, porque era possível que o filho de qualquer judeu fosse o Messias, e a finalidade deles não era só por ter filhos, mas era ter filhos dos quais um pudesse ser o Messias. Eles que desejavam tanto a vinda do Messias, deveriam legitimamente desejar que nascesse deles.
Provavelmente ─ isso acrescento eu ─ eles receberam comunicações de ordem mística ordinária ou extraordinária, de que o Messias nasceria deles. E os anos passam, os anos passam, os anos passam, a promessa lá está, a promessa lá está, a promessa lá está, e não vem, não vem, não vem!
O martírio da espera pode ser pior que o do campo de batalha
Eu acho que um martírio desses pode ser pior do que o martírio no campo de batalha! Porque o que é o escoar dos dias, e dos dias, e dos dias, e a coisa não vem, a coisa não vem, a coisa não vem ─ é uma coisa do outro mundo!
Bem, afinal, surpresa! Santa Ana comunica ao esposo que ela tinha concebido uma criança. Bem, então é o Messias! Há uma promessa de que o Messias nasceria deles! Então é o Messias. Nasce... é uma Menina!
Podem calcular o que isso representa? Então, todas aquelas promessas são vãs? Toda aquela esperança é vã? Não se pode admitir isso. Mas Deus levar as coisas a este ponto, de fazer nascer uma menina, depois de uma tão longa promessa? Parece quase uma brincadeira, da qual a santidade dEle é incapaz! Então, como explicar isso?
A menina se desenvolve, e é uma torrente de maravilhas! É uma menina como eles nunca imaginaram! Digna filha de uma tal espera. Mas, para ter como descendente o Messias, era preciso ser por via masculina. Não se computava, para o Messias, a descendência por via feminina. Então, se essa menina única, incomparável, casa-se, o filho dEla não será o Messias descendente de São Joaquim e de Santa Ana.
Estão vendo a complicação da coisa. Bem, vamos adiante. A coisa toca mais para frente. A menina visivelmente tocada pela graça, comunica aos pais que é desejo de Deus que ela seja sempre virgem. E eles veem na menina que esse é o desejo de Deus. Não podem duvidar. Mas, então, o quê? Uma promessa, uma longa espera, uma aparente realização ─ um bolsão que fecha a realização: o próprio Deus chama essa menina a ser sempre virgem.
Logo, a promessa no que é que fica? Deus parece ter prometido e ter retirado. Vamos esperar, vamos esperar, vamos esperar.
Bem, vai mais para frente o assunto. Em certo momento apresenta-se São José para casar com Ela. Parente dEla, ambos eram da Casa de David, sumamente puro, digno, composto, homem simples... São Joaquim e Santa Ana não eram riquíssimos, mas bem abastados. São José, pelo contrário, pobre, era um mero carpinteiro. Não é o que o mundo chama de um casamento brilhante. Ele se apresenta para casar, mas ele sabe que ele também tem uma promessa de ser, ele mesmo, sempre virgem. E que Deus pediu a ele. Em certo momento Deus diz a ele: case, sem deixar de ser virgem! E diz a Nossa Senhora: - Case com esse homem, e não deixe de ser virgem!
Mas quando São José recebe a comunicação que ele deve casar-se, a esperança da virgindade no que é que fica? Será que ele faltou em alguma coisa, e Deus já não quer como lírio dele entre os homens?
Até eles se entenderem sobre esse assunto, e os dois compreenderem que misteriosamente a Providência quer que ambos fiquem virgens, até isso, que complicação, que problema! E, com certeza, Nossa Senhora contava tudo para Santa Ana e São Joaquim: isto está assim, aquilo está assado, etc., etc.
Afinal, casam-se. Está muito bem, a virgindade respeitada por ambos, um lar pequeno mas perfumado por todas as virtudes possíveis!
Os paradoxos: S. José deve se casar com Nossa senhora, apesar das respectivas promessas de virgindade
José deve se casar com Nossa senhora, apesar das respectivas promessas de virgindade
Em certo momento São José percebe o que ele jamais na vida cria ter percebido: Nossa Senhora está com uma criança. Não sei se percebem que espera é essa, cheia de ziguezagues, cada uma mais terrível do que a outra!
Bom, pela lei judaica, se Ela prevaricasse, ele tinha obrigação de mandá-la embora de casa. Mas ele sabia que Ela não podia prevaricar. Ele a conhecia, sabia: esta alma não faz isso! Como é isso? Nossa Senhora vê o sofrimento de São José, e percebe que Ela não pode dizer a São José uma palavra. Se Ela falasse do Angelus, se Ela explicasse, o mistério estaria terminado e concluído, o problema do Messias estaria altamente resolvido.
Mas não é assim. E então São José resolve ausentar-se. Pergunta a Deus, não recebe nenhuma comunicação, fica num mistério cada vez mais pesado. Percebe que o processo da gestação vai para frente, e que ele não pode assistir a essa gestação. Inocente contra toda a evidência! Mas, é um mistério...
 O mistério se desvanece, um anjo conta a S. José
Podem imaginar o alívio dele quando, em sonho, um anjo conta para ele! No dia seguinte, quando ele amanhece, Nossa Senhora que talvez tenha passado a noite em claro, o vê, e o vê sereno, tranquilo, contente, ser para com Ela mais reverente do que tudo. Porque ele compreende que a Esposa dele é um tabernáculo onde o próprio Espírito Santo deu origem ao Filho de Deus, e que ali está o Messias, esperado das nações, esperado da Casa de David, esperado de São Joaquim e de Santa Ana, esperado dele! E que ali se realizou de modo super maravilhoso o que nunca se poderia imaginar. Mas as promessas não falham!
Como são os caminhos de Deus: quanto mais se espera, mais altíssimo será o que vem!
Plinio Correa de Oliveira - Extraído de uma conversa em 1988, sem revisão do autor.


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