Continuação do post anterior.
Argumento apologético para os séculos vindouros
Alguém dirá: “Dr.
Plinio, então o senhor assinala dois pontos: milagres para converter os povos
do Mediterrâneo, o perfume da Doutrina Católica e a beleza simbólica desses acontecimentos
para atrair as almas a essa Doutrina. Mas por que essa santa, em vez de morrer
dilacerada por um touro, não foi protegida por Deus até o fim? E o Criador não
deu ordens para o touro liquidar com o governador romano? Não teria sido uma
coisa muito mais bonita ver o touro, o leão, o leopardo de repente pularem,
como um cavalo alado, por cima da tribuna do governador romano, matá-lo e
depois fazer uma chacina e implantar ali o domínio dos católicos? Não seria
então, muito antes de Constantino, uma espécie de revanche católica que nos daria
as glórias da vitória? Para que tanta gente que morre praticamente sem resistir,
tantos milagres que não dão numa vitória que só Constantino veio alcançar?”
Uma pessoa, com muito
fundamento, muita razão, muito bom senso, dias atrás me fez essa pergunta. Eu estava
apressado, não dei a resposta, mas a dou agora: Uma das provas de que Nosso
Senhor Jesus Cristo existiu e de que os fatos narrados pelo Evangelho, são
verdadeiros — provas válidas para os homens de hoje, de quinhentos anos atrás,
para os homens até o fim do mundo, está precisamente no testemunho dos mártires.
Não se tratava apenas de vencer, mas de dar um argumento apologético para os
Séculos vindouros. Qual era esse argumento apologético? Os fatos narrados no
Evangelho se deram na presença de muitíssima gente. Por sua vez, as testemunhas
desses fatos, ou os filhos delas, foram dispersas por todo o Império Romano,
pela pressão de Tito à nação judaica. Os inimigos acérrimos dos católicos
poderiam alegar que os fatos narrados pelo Evangelho eram falsos, dizendo: fale
com esse, com aquele, com aquele outro; eles dirão que isso não existiu, que
esses fatos não são verdadeiros.
Havia judeus por todo o
Império Romano De mais a mais, muitos deles que ali viviam já não eram propriamente
procedentes da Judeia, mas chamados da diáspora, que se tinham dispersado antes
de Jesus Cristo. Esses judeus viajavam frequentemente a Jerusalém, o ponto de
atração de interesse máximo para eles, e se inteiram das coisas que lá
aconteciam.
Todos eles poderiam ter
desmentido o Evangelho o que deveria criar nas pessoas que ouvissem os Apóstolos,
ou seus seguidores uma dúvida.
Entretanto, os judeus
não desmentiam fatos públicos notoríssimos, e isso confirmava os cristãos na
Fé. Estes estavam tão certos de que aqueles fatos eram verdadeiros que, como
Marciana, deixavamse estrangular, eram as testemunhas vivas da veracidade da
narração do Evangelho.
Isso levou um escritor
não católico, Pascal, a dizer uma coisa muito verdadeira: “Eu creio no que contam
testemunhas que se deixam estrangular.” E é verdade. Essas testemunhas, para
provarem que a Religião Católica é verdadeira, se deixavam estrangular. Nenhuma
prova melhor da veracidade da coisa do que a estrangulação.
O testemunho dos mártires prova a veracidade do Evangelho
Então, durante muitos
séculos e até hoje, uma das melhores provas de que a Religião Católica é
verdadeira e de que os fatos narrados no Evangelho são verdadeiros, é o testemunho
dos mártires por toda a extensão do Império Romano. Assim, se compreende que a
Providência dava a esses homens o apelo para uma forma de heroísmo que correspondia
aos desígnios d’Ela naquele tempo e que não era liquidar e vencer, mas aguentar
e morrer. Se eles tivessem vencido, dir-se-ia: uma seita venceu. E não se teria
um argumento inteiramente seguro. Dessa forma, ficou a prova: milhões e milhões
tiveram tanta certeza que eles se deixavam matar. Quer dizer, a prova do sangue
foi dada exuberantemente e todas as gerações vindouras creram por causa deles. E
é por causa disso que a Providência não os convidou a uma cruzada contra os
pagãos, mas, pelo contrário, a essa forma de reação cujo sentido profundo hoje
se percebe, e naquele tempo não se percebia.
Fica, então, patente o
milagre da Providência Se Ela deu a Santa Marciana a força para derrubar o ídolo,
não lhe concederia energias para ir até a tribuna do representante do
imperador, do procônsul para esbofeteá-lo jogá-lo no chão, apunhalá-lo, liquidá-lo?
É evidente que sim. Para Deus nada impossível. Mas que prova seria para nós a
vida de Marciana, se ela tivesse ficado proconsulesa depois? Que prova seria
para os séculos futuros? Nenhuma. Era preciso que houvesse dois milagres:
primeiro, da resistência contra todos os obstáculos; e depois, em determinado
momento, um obstáculo que vem e a respeito do qual Deus não dá mais
resistência.
Então, volto a dizer,
existem três operações sobre a opinião pública: ela vai e quebra o ídolo; há a
provado milagre e a prova do martírio. Essas provas são tão boas que duram até
nossos dias.
Plinio Correia de Oliveira – Extraído
de conferência de 18/2/1972
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