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sábado, 1 de outubro de 2016

Santa Teresinha do Menino Jesus

Felizmente, a fotografia já estava inventada em dias dela, pelo que conservamos o retrato autêntico da grande Santinha: singularmente bela, de traços regulares, olhar luminoso e vasto, porte firme, semblante resoluto, sua fisionomia deixa transparecer qualidades que parecem opostas entre si – ao menos segundo a mentalidade liberal –, como a bondade e a firmeza, a distinção e a simplicidade, o perfeito e absoluto domínio de si, e a mais atraente naturalidade. Se não possuíssemos fotografias da santa rosa do carmelo, que ideia teríamos dela? A que nos apresentam muitas de suas imagens: doce de uma doçura sentimental e quase romântica, boa de uma bondade puramente
humana e sem menor sopro de sobrenatural, enfim uma jovem de boas inclinações de bem que exageradamente sensível... nunca uma Santa, uma autêntica e genuína Santa, um luzeiro cintilante no firmamento espiritual da Igreja de Deus Verdadeiro. Se não toda a iconografia, pelo menos certa iconografia, sem alterar os traços da Santa, lhe alterou contudo a fisionomia. O mesmo se dá com sua biografia. Certa literatura sentimental-religiosa, sem adulterar propriamente os dados biográficos de Santa Teresinha, encontrou meios de interpretar tão unilateral e superficialmente certos episódios de sua vida, que chegou a desfigurar de algum modo seu significado. As deformações iconográficas e biográficas se fizeram todas em uma mesma direção: ocultar o sentido profundo, admirável, heroico e imortal da vida da imortal Santinha.
***
Evidentemente, podem-se adquirir méritos, praticando a virtude por toda parte. Mas há, no jardim da Igreja, almas que Deus destina especialmente a este fim. São as que Ele chama à vida contemplativa, em conventos reclusos, onde certas almas de escol se dedicam especialmente em amar a Deus, e a expiar pelos pecados dos homens. Estas almas corajosamente pedem a Deus que lhes mande todas as provações que quiser, desde que com isso se salvem numerosos pecadores. Deus as flagela sem cessar, de um modo ou de outro, colhendo delas a flor da piedade e do sofrimento, para com estes méritos salvar novas almas. Consagrar-se à vocação de vítima expiatória pelos pecadores: nada há de mais admirável. E isto tanto mais quanto muitos há que trabalham, muitos que rezam: mas quem tem a coragem de expiar?
Este é o sentido mais profundo da vocação dos Trapistas, das Franciscanas, Dominicanas e Carmelitas entre as quais floriu a suave e heroica Teresinha.
Seu método foi especial. Praticando a conformidade plena com a vontade de Deus, ela não pediu sofrimentos, nem os recusou. Deus fizesse dela o que entendesse. Jamais pediu a Deus ou suas superioras que dela afastassem qualquer dor. Jamais pediu a Deus ou a suas superioras qualquer mortificação. Submissão plena era o seu caminho. E em matéria de vida espiritual plena submissão equivale a plena santificação.
Seu método se caracteriza ainda por outra nota importante. Santa Teresinha não praticou grandes mortificações físicas. Ela se limitou apenas simplesmente às prescrições de sua Regra. Mas esmerou-se em outro tipo de mortificação: fazer a toda hora, a todo instante, mil pequenos sacrifícios. Jamais a vontade própria. Jamais o cômodo, o deleitável. Sempre o contrário do que os sentidos pediam. E cada um destes pequenos sacrifícios era uma pequena moeda no tesouro da Igreja. Moeda pequena, sim, mas de ouro de lei: cada pequeno ato consistia no amor de Deus com que era feito.
E que amor meritoso! Santa Teresinha não tinha visões, nem mesmo os movimentos sensíveis e naturais que tornam por vezes tão amena a piedade. Aridez interior absoluta, amor árido, mas admiravelmente ardente, da vontade dirigida pela Fé, aderindo firme e heroicamente a Deus, na atonia involuntária e irremediável da sensibilidade. Amor árido e eficaz, sinônimo em vida de piedade, de amor perfeito...
Grande caminho, caminho simples. Não é simples fazer pequenos sacrifícios? Não é mais simples não ter visões, do que as ter? Não é mais simples aceitar os sacrifícios em lugar de os pedir?

Caminho simples, caminho para todos. A missão de Santa Teresinha foi de nos mostrar uma vida em que pudéssemos todos trilhar. Oxalá ela nos auxilie a percorrer esta estrada real, que levará aos altares, não apenas uma ou outra alma, mas legiões inteiras.
Plinio Corrêa de Oliveira - Trecho extraído do Legionário 28/09/1947 

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