Pe Carlos Werner Benjumea,EP
“Já não tenho em quem confiar”, afirma um grande número de pessoas por
sentirem-se desoladas, abandonadas e, até mesmo, traídas por aqueles dos quais
esperavam receber maior apoio e solidariedade. Às vezes, são pessoas unidas
pelos fortes laços da natureza as que defraudam e ferem os corações de seus
mais próximos.
Uma realidade tão cruel atrai a compaixão… O principal remédio, sem dúvida, é a
oração, mas não haverá algo mais a fazer para ajudar nossos irmãos e irmãs
nessa situação dramática, tão difundida por toda parte? O ideal seria cada um
deles ter um conselheiro fiel sempre à disposição, que, por pura amizade, os
orientasse, consolasse, encorajasse. Um amigo de verdade, em quem pudessem
depositar toda a sua confiança.
Eis uma utopia, um problema
para o qual parece não haver solução, pelo menos em termos humanos. Com efeito,
onde encontrar tantas pessoas assim?
Entretanto, muitos de nós, se
olharmos para trás, para o tempo dourado de nossa infância, quando, ajudados
por nossas mães, começávamos a rezar nossas primeiras orações, talvez nos
lembremos de alguém que sabíamos estar sempre ao nosso lado, e a quem
chamávamos de “zeloso guardador”. Um ser ao qual talvez tenhamos muito recorrido,
e cuja figura ficou depois empoeirada nalgum canto de nossas recordações.
Tomo, pois, a liberdade de lhe
recordar, leitor, a existência desse amigo invisível, mas presente constante e
fielmente ao nosso lado, poderoso e amável, que vive sempre na contemplação de
Deus e, ao mesmo tempo, nunca deixa de cuidar de nós: o Anjo da Guarda.
Desde o início de sua vida até
o momento de passar para a eternidade, todo ser humano é cercado pela proteção
e intercessão de um anjo designado por Deus para o guiar, proteger e orientar.
Assim, cada um de nós tem um Anjo da Guarda.
Provavelmente, quase todos nós
aprendemos em casa, ou nas aulas de catecismo, a clássica oração: “Santo Anjo
do Senhor, meu zeloso guardador, já que a ti me confiou a piedade divina,
sempre me rege, guarda, governa e ilumina. Amém”. Apesar disso, talvez tenha
escapado alguma vez de nossos lábios uma pergunta, repassada mais de admiração
do que de dúvida: “Então eu tenho mesmo um anjo incumbido por Deus de cuidar de
mim?” É realmente admirável o fato de cada um de nós possuir um anjo cuja missão
específica é favorecer-nos em tudo quanto se relacione com nossa salvação
eterna, mas é essa a realidade: Deus “os fez mensageiros de seu projeto de
salvação”, afirma o Catecismo da Igreja Católica. E diz São Paulo: “Não são
todos os anjos espíritos ao serviço de Deus, o qual lhes confia missões para o
bem daqueles que devem herdar a salvação?” (Hb 1,14).
“Grande é a dignidade das almas
— exclama São Jerônimo —, quando cada uma delas, desde a hora de seu
nascimento, tem um anjo destinado para sua custódia!”
É muito reconfortante saber que
um ser superior à nossa natureza está continuamente a nosso lado; que ele, puro
espírito, mantém-se na contemplação incessante de Deus e, ao mesmo tempo, vela
por nós, quer-nos todo o bem, e seu objetivo é levar-nos para a felicidade
perfeita e infindável do Céu.
Quando nos damos conta da
presença desse incomparável guardião, estabelecemos com ele uma amizade firme e
íntima, como descreve o grande escritor francês Paul Claudel: “Entre o anjo e
nós existe algo permanente. Há uma mão que, ainda quando dormimos, não solta a
nossa. Sobre a terra onde nos encontramos, compartilhamos o pulso e o latejar
do coração desse irmão celeste que fala com o nosso Pai”.
Se tivéssemos maior confiança
nesse celeste protetor, nesse bom amigo que nunca falha — ainda quando dele nos
afastamos, por nossa má conduta —, seríamos capazes de recobrar a paz e o
equilíbrio dos quais tanto precisamos!
Eles estão a nosso lado, incansáveis,
solícitos, bondosos
A Bem-Aventurada Hosana
Andreasi, de Mântua (Itália), ainda com seis anos de idade, tomara o gosto de
passear pelas margens do Rio Pó, extasiada com a beleza do panorama. Um dia
encontrava-se sozinha nesse lugar, quando de repente viu surgir diante de si um
belo jovem, alto e forte. Nunca o havia visto antes... Surpresa, mas não amedrontada,
ouviu o recém-chegado dizer com voz clara, ao mesmo tempo suave e firme: “ vida e a morte consistem em amar a Deus”.
Sua surpresa aumentou quando o “jovem” a ergueu do chão e, olhando-a
diretamente nos olhos, acrescentou: “Para
entrar no Céu, você precisa amar muito a Deus. Ame-O. Tudo foi criado por Ele,
para que as pessoas O amem”. Foi este o primeiro de numerosos encontros que
Hosana teve, até seu falecimento (em 1505), com seu Anjo da Guarda.
Casos como esse, de
relacionamento intenso com os anjos, não são nada raros. Santa Gemma Galgani
(18781903), por exemplo, teve a constante companhia de seu anjo protetor, com
quem mantinha um trato familiar. Ele lhe prestava todo tipo de ajuda, até mesmo
levando suas mensagens para seu confessor, em Roma.
Ainda mais próximos de nós,
encontramos os episódios freqüentes ocorridos com São Pio de Pietrelcina
(1887-1968), grande incentivador da devoção aos Anjos da Guarda. Em diversas
ocasiões ele recebeu recados dos Anjos da Guarda de pessoas que, à distância,
necessitavam de algum auxílio dele.
O Beato João XXIII, outro
grande devoto dos anjos, dizia: “Nosso desejo é que aumente a devoção ao Anjo
Custódio”.
Nossos anjos guardiães estão ao
lado de cada um de nós, incansáveis, solícitos, bondosos, prontos para nos
ajudar em tudo quanto precisarmos — inclusive em nossas necessidades materiais,
mas especialmente para nos proporcionar os bens espirituais, auxiliando-nos a
caminhar na via da virtude.
* * *
Estimado leitor, queira Deus
que esses pensamentos, tirados da Revelação e do tesouro da Santa Igreja,
possam nos ajudar a nos tornarmos mais próximos desses fiéis amigos celestiais,
consolando-nos e animando-nos. E aumentar nossa vontade de conhecê-los sem os
sagrados véus da fé, quando nos encontrarmos lá no alto, no Reino dos Céus.
Os outros anjos...
Se os demônios tanto nos
perseguem, por que não recorrermos ao Anjo da Guarda, pedindo sua proteção?
Certamente, crescer no relacionamento com ele significará estar mais defendido
das ações dos espíritos malignos, e ser mais ajudado na luta contra as
tentações.
Diz São João da Cruz: “Os anjos,
além de levar a Deus notícias de nós, trazem os auxílios divinos para nossas
almas e as apascentam como bons pastores (…) amparando-nos e defendendo-nos dos
lobos, os demônios”.
Confiando-nos inteiramente aos
nossos Anjos da Guarda, não precisamos temer os demônios. Afinal, estes últimos
nada conseguem contra o poder daqueles.
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